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segunda-feira, 26 de maio de 2025

DILÚVIO DE 1967: aconteceu em Portugal e deixou centenas de mortos!

Informações retiradas do livro: DILÚVIO SEM DEUS - JOANA AMARAL DIAS.

Tenho certo fascínio por tragédias. Desde pequeno adorava os filmes catástrofes, e creio que me dá uma sensação de quanto somos pequenos perante a natureza e as vontades dela.

Após ler o EXCELENTE livro DILÚVIO SEM DEUS de JOANA AMARAL DIAS, decidi listar os mortos na grande chuva seguida de enchente que aconteceu entre 25 e 26 de novembro de 1967, principalmente em Lisboa, mas que atingiu todos os municípios às margens do Rio Tejo.

A enchente se deu na época da Ditadura em Portugal (1926-1974), o que fez com que o governo abafasse a tragédia e diminuísse os dados, tanto de feridos quanto de mortos. Estima-se que as chuvas e enchentes causaram cerca de 700 mortes e a destruição de 20 mil casas.

Porém, esse número nunca foi oficial, e os nomes das pessoas mortas, nunca foi divulgado como se deve.

Joana Amaral fez um trabalho hercúleo de pequisa, que reverbero aqui. E, como museólogo, tenho a intenção de propor um Memorial do Dilúvio, onde o acontecimento e o nome dos mortos seja perpetuado, para que nunca se esqueça e que nunca se repita.

Quanto à lista, a intenção é deixar ela o mais completa possível, para que os nomes e as quantidades sejam cada vez mais próximas ao real. Se você teve parentes que morreram na enchente, ou tem informações e quer ajudar a completar a lista, entre em contato.

Para comprar: https://www.wook.pt/ebook/diluvio-sem-deus-joana-amaral-dias/24325219

Veja vídeo do Jornal Expresso: https://www.youtube.com/watch?v=XHre0QyOBP0

quinta-feira, 15 de maio de 2025

VELOZ CIDADE: a imprudência que assombra os jovens!

No dia 1 de junho de 2019, às 21h30, os jovens atores do Grupo de Teatro da Biblioteca - NAIPE subiram ao palco do Cine Oriental na cidade de Aljustrel, em Portugal, para apresentar a peça de minha autoria: “Veloz Cidade”, 

O NAIPE representou alunos de uma turma de universitários, perto do tão esperado dia de fim de curso, exaltados com os preparativos para uma festa de despedida.

Além da cerimónia de bênção das pastas, que vai exigir muito dos alunos, eles vão ter de lidar com os seus problemas de relacionamento, de aceitação, de convivência com os pais, do envolvimento com drogas, álcool e carros velozes. No meio disto tudo, um acontecimento marcante vai uni-los e mudar o destino das suas vidas para sempre.

Stevan Lekitsch é um autor, produtor, professor e realizador teatral brasileiro, com mais de 30 anos de experiência em teatro profissional. As suas peças teatrais, destinadas a todos os públicos, desde o infantil aos adultos, e de todos os géneros, abordam temas tão diversos como a defesa do meio ambiente e a reciclagem do lixo, a religião, ou a discriminação e violência no trânsito, sendo este último o tema da peça apresentada em Aljustrel. 

Os seus textos, que já foram encenados em várias cidades e distritos do Brasil, chegam agora a Portugal. Stevan Lekitsch trabalha, atualmente, com projetos culturais e museus no Baixo Alentejo. A inspiração para o texto da peça “Veloz Cidade” deve-se ao facto de já ter perdido vários amigos em acidentes de viação. Esse drama gerou este belo texto, que homenageia todos os que partiram desta forma trágica e inesperada.

“Veloz Cidade”, com adaptação de Isabel Galope e encenação de Ângela Santos, foi representada, pelo NAIPE - grupo constituído por 13 jovens atores dos 14 aos 18 anos, que também eles contribuíram para a construção deste espetáculo.

As entradas são gratuitas. Os bilhetes para assistir ao espetáculo podem ser adquiridos na receção das Oficinas de Formação e Animação Cultural, em dias de atividades na bilheteira do Cine Oriental, ou no próprio dia do espetáculo.

O espetáculo será reposto, no dia 3 de junho, para os alunos do 3.º ciclo e secundário, ao que se seguirá uma conversa com a enfermeira, Carla Espada, que apoiou o grupo NAIPE durante o processo de construção da peça.

Fonte: https://www.mun-aljustrel.pt/6367/drama-social-em-cena-no-cine-oriental

quinta-feira, 1 de maio de 2025

APAGÃO: e a importância dos Vizinhos!

Olá, vizinha(o)! 

Espero que esteja tudo bem, depois de um início de semana histórico e atribulado. Quem escreve hoje é Gonçalo da Silva Amaral, estagiário. 

E sou eu a escrever esta carta porque de toda a gente que faz parte da Mensagem, eu fui o que teve a experiência mais radical de… vizinhança, neste dia difícil. 

Um dia histórico também para a mercearia Mercado da Maria, em Penteado, na Urbanização Quinta do Chora, concelho da Moita, distrito de Setúbal. 

Um dia histórico para uma mercearia? Sim. 

Às 11h30 de dia 28, o país ficou sem luz, e em alguns sítios como no Penteado, sem água, e sem saber quando tudo voltaria ao normal. No meio do caos a mercearia da minha vizinha Maria João continuava aberta. 

Mas quando desci para ir comprar água - talvez empurrado pela confusão do “Isto vão ser três dias!”  gritada por uma vizinha,  ou “não, vai ser uma semana!”, de outro, já com um garrafão de cinco litros em cada mão - percebi que também na loja o caos estava instalado: luzes apagadas, muito calor, vidros dos frigoríficos embaciados e filas gigantes para pagar. 

Já só havia águas de 1 e meio litro. As de 5 litros já tinham ido todas. Com sete garrafas num cestinho eu e a minha mãe fomos para a fila. Na altura de pagar… Mas qual é o preço das águas? Não sabíamos e isso era crucial, porque sem eletricidade era impossível registar os produtos. 

A vizinha Maria João anotava tudo o que era vendido num caderno, tremendo na sua letra frágil. O preço já não estava junto da prateleira das águas. E para o encontrar a vizinha teve de folhear três folhas das contas antigas e lá encontrou a marca destas águas. Abria a calculadora do telefone, que várias vezes se desligava pelo nervosismo dos dedos. 

Então eu perguntei se ela precisava de ajuda. De alguém que fosse indicando os preços, assim que os produtos chegassem à caixa. “Sim, se quiserem ajudar venham”, respondeu a Maria João. 

E assim foi, num início de tarde quente de apagão no Mercado da Maria. “Quanto é que custam estas bolachas?” “80 cêntimos”. “As latas de atum?”, “1,20€ cada, 1, 20€ cada uma”, gritei encostado à prateleira dos vinhos que permanecia intacta.

A minha performance foi notada, e deu origem a outro desenrascanço de vizinhança: os vizinhos começaram a fotografar as etiquetas para depois mostrarem na caixa.  Sem a vizinhança, a vida da Dona Maria João teria sido impossível - mesmo assim teve de fechar três horas mais cedo. Neste dia histórico para a mercearia.

Só por volta das 23h30, a luz chegou. No resto da semana, a mercearia funcionou com luz. Atrevo-me a dizer: com uma nova luz. A luz de se saber parte de uma comunidade de ajuda e apoio. Uma vizinhança, enfim. 

E por aí? Sentiu a sua vizinhança? Sentiu-se seguro com a sua vizinhança? 

Espero que sim! Até breve!

Gonçalo da Silva Amaral

Texto recebido por e-mail: Mensagem de Lisboa <geral@amensagem.pt>.

quinta-feira, 27 de março de 2025

TEATRO: Hoje é o Dia Mundial!

O Dia Mundial do Teatro é comemorado anualmente em 27 de março.
Na qualidade de autor, diretor, produtor, iluminador e professor de Teatro, venho ressaltar o dia de hoje, Dia Mundial do Teatro.

Já escrevi uma dezena de peças teatrais, uma das minhas maiores paixões, encenadas no Brasil e em Portugal.

Peças escritas:
- "O Mágico de Inox" - encenada em São Paulo (SP), Natal (RN) e algumas outras cidades do interior de SP.
- "Dona Cleide - a funcionária por um fio" - encenada em São Paulo (SP).
- "Veloz Cidade" - encenada em Aljustrel (Portugal).
- "Eurípedes Barsanulfo" - encenada em São Pedro (SP).
- "Bisnaguinhas".

TEATRO SEMPRE!!! Viva o TEATRO!!!

Sobre a data

A comemoração, criada pelo Instituto Internacional de Teatro, recorda a data da abertura do Teatro das Nações, em Paris (França).

A data homenageia uma das artes mais antigas da humanidade: a interpretação teatral. 

Alguns antropólogos acreditam que as primeiras manifestações de interpretação teatral surgiram ainda nas sociedades humanas primitivas. Nessa época, o teatro era associado aos rituais de exorcismo dos maus espíritos ou para atrair fartura e fertilidade do solo.

Com maior entendimento do homem sobre as forças que regem a natureza, o teatro deixou de possuir um caráter ritualístico, passando a ser de cunho didático.

Na Grécia Antiga, por exemplo, os gregos faziam representações de comédias e tragédias envolvendo os deuses e deusas de sua mitologia.

No Brasil, as representações teatrais surgiram no século XVI, com encenações sobre temáticas religiosas com a intenção de catequizar a população. No entanto, os primeiros teatros começaram a surgir no país apenas com a vinda da família real portuguesa, em 1808.

Atualmente, o teatro é uma expressão artística que envolve muito mais do que atores e atrizes. Diretores, escritores, maquiadores, cenografistas e muitos outros cargos são de extrema importância para a produção de um espetáculo teatral.

No Brasil, ainda se comemora o Dia do Artista do Teatro (19 de agosto) e o Dia Nacional do Teatro (19 de setembro).

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

TERRA ESTRANGEIRA (1995): Um dos Melhores Filmes Brasileiros

Uma obra-prima dirigida pelo gênio Walter Salles e Daniela Thomas, e com a premiada Fernanda Torres, num contexto que se passa metade no Brasil, mais precisamente em São Paulo (SP) e outra metade em Portugal. 

No elenco ainda: Fernando Alves Pinto, Laura Cardoso, Luis Mello, João Lagarto (ator português), entre outros.

Sinopse

O filme trata da solidão vivida pelos imigrantes. Conta a história de Paco (Fernando Alves Pinto), que deseja conhecer a terra de sua mãe. Após a morte dela, e sem dinheiro após o confisco promovido por Fernando Collor, Paco aceita entregar um pacote misterioso, a pedido do também misterioso Igor (Luís Mello), em Portugal, em troca do custeio da viagem. Após perder o pacote, ele encontra-se com Alex (Fernanda Torres), brasileira que trabalha como garçonete em Portugal e que vive com Miguel (Alexandre Borges), um músico-contrabandista viciado em heroína. Em fuga para a Espanha, Paco é perseguido por bandidos interessados no pacote.

Assista em: https://www.dailymotion.com/video/x9628ga

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

OVNI: Bola de fogo atravessou Portugal

Uma bola de fogo atravessou Portugal e a Espanha a 89 mil km/h no dia 21 de janeiro de 2024. Que fenómeno é este?

O fenómeno aconteceu às 20:03 e foi em Elvas onde se viu melhor. Seriam restos de cometas que se desintegram? O que acontece quando a Terra passa nessas zonas do espaço?

A bola de fogo apresentou várias explosões que provocaram aumentos da sua luminosidade ao longo da sua trajetória e que, devido à forte fricção, acabou por fragmentar-se. A bola foi registada pelos detetores SMART a partir das estações espanholas situadas em Huelva, La Hita, Calar Alto, Sierra Nevada, La Sagra, Sevilha e El Aljarafe.

O investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Pedro Machado, disse à SIC Notícias que se tratavam de "restos de cometas que se desintegram", o que acontece "quando a Terra passa em zonas do espaço onde estão estes restos de cometas que se desintegram".

"Os que são maiores, como entram na atmosfera da Terra, desintegram-se e fazem uma bola de fogo", explicou o astrofísico, que diz que todos os dias caem cerca de duas toneladas de resquícios de pedaços de asteroides ou de poeira, geralmente "muito pequeninos".

No entanto, o fenómeno avistado no domingo acontece geralmente em janeiro ou em agosto. Na semana passada, também visto na Alemanha.

Fonte: https://www.dn.pt/870964404/bola-de-fogo-atravessou-portugal-a-89-mil-kmh-no-domingo-que-fenomeno-e-este/

Post no Twitter: https://twitter.com/JShadab1/status/1749535569292497380

quarta-feira, 27 de março de 2024

Dia Mundial do Teatro - Lisboa tem Calçada da Fama

A Praça da Alegria, junto à Avenida da Liberdade, na cidade de Lisboa (capital de Portugal), é um lugar de tributo ao Teatro de Portugal, desde a construção do “Passeio da Fama”, em 2019.

Para assinalar o Dia Internacional do Teatro, hoje, 27 de Março, a Junta de Freguesia de Santo António prepara-se para mais um “Brinde ao Teatro”. Serão incluídos mais 33 artistas portugueses, com a inscrição dos seus nomes na calçada do Jardim Alfredo Keil, em Lisboa (Portugal).

Fica a sugestão para as Prefeituras brasileiras!

Saiba mais em: https://sbat.com.br/lisboa-tem-calcada-da-fama-para-o-teatro/

Imagem: Câmara Municipal de Lisboa – https://www.lisboa.pt/atualidade/noticias/detalhe/passeio-da-fama-homenageia-atores-no-dia-mundial-do-teatro

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Fialho, Odorico e Dias: uma amizade improvável

O primeiro, um português agricultor alentejano que se torna escritor. O segundo, personagem, com linguajar parecido com o primeiro, mas criado pelo terceiro. O terceiro, um escritor brasileiro que criou um dos mais célebres personagens da literatura e da dramaturgia brasileira, e, quem sabe, inspirado no primeiro. Está estabelecida a ligação improvável entre eles.

Três existências. Dois cronistas de dois países. Fialho, chamado de “o escritor da “comédia” da vida portuguesa”. Dias Gomes, o escritor da comédia da vida brasileira. Odorico Paraguaçu, o político criado pela comédia de Gomes, que escancara e faz troça da vida brasileira.

O primeiro, nascido em 1857 na pequena Vila de Frades, concelho da Vidigueira, distrito de Beja. O terceiro, nascido em 1922, ano da célebre Semana de Arte Moderna de São Paulo (SP), que lançaria para sempre nomes da cultura brasileira lembrados até hoje, na cidade de São Salvador da Bahia. 

E o segundo, nascido em 1969, nas páginas em branco de Dias Gomes, na fictícia cidade de Sucupira, nome de uma árvore, localizada também no Estado da Bahia, onde seria Prefeito, o equivalente a Presidente da Câmara em Portugal. Vale lembrar que o descobridor Pedro Álvares Cabral também desembarcou na ilha de Porto Seguro, que também pertence ao Estado da Bahia. Seria a Bahia sempre o início de tudo e de todos?

Sucupira, curiosamente, é o nome de uma família de árvores, que englobam várias espécies chamadas de fabáceas, árvores que produzem favas, existentes tanto em Portugal quanto no Brasil. Mais uma ligação entre os dois países. Fictício, existente apenas na literatura e nas telas de televisão, o município de Sucupira passou a existir realmente no Estado de Tocantins a partir de 1991, no Brasil, tendo atualmente 2 mil habitantes. A Sucupira fictícia, desconhece-se a quantidade de habitantes, mas seriam os mais divertidos e famosos da dramaturgia.

Além de seu Prefeito Odorico, haveria o fiel escudeiro Dirceu “Borboleta”, o puxa-saco (ou lambe-botas) do Prefeito, que tinha esta alcunha por gostar de colecionar borboletas. E que câmara municipal que não possui essa figura? Destaque também para as irmãs Cazajeiras, três irmãs de idades próximas, solteironas, que possuem como ofício especular e falar mal da vida alheia. Imagine! Não há disso no Alentejo! Quase nunca... 

E mais uma vez voltamos à botânica, pois, cajazeira, e a árvore do cajá, fruta tipicamente brasileira, cuja árvore que chega a medir até 25 metros, da família das anacardiáceas, de casca adstringente, madeira branca, flores aromáticas, e frutos alaranjados, de polpa resinosa e ácida, existente apenas no Brasil. Essa acidez seria o motivo da escolha do apelido das três irmãs?

Fialho de Almeida, não reconhecido nem cultuado na época em que viveu, somente anos depois, assim como Dias Gomes, foi jornalista, cronista, crítico, e não era querido por seu humor ácido e jocoso. Em seus textos, principalmente nas crónicas reunidas no livro “Os Gatos”, que ficou como sua marca registrada, criava palavras e expressões para passar a intenção do que escrevia.

Foi lendo seus textos pela primeira vez que me veio a faísca: onde já tinha lido ou ouvido texto semelhante? E o cérebro maquinava e não conseguia recuperar. Foi quando de uma retrospectiva de personagens de novela, ao ouvir as palavras de Odorico Paraguaçu, da novela O Bem-Amado, é que me veio o estalo: Fialho de Almeida era precursor de Dias Gomes, o criador de Odorico.

Assim como Odorico, Fialho usava e abusava da língua portuguesa, criando expressões próprias para expressar o que queria. Adjetivos viravam advérbios de modo, como por exemplo as brincadeiras que fazia com a palavra grande: grandelesco, grandelescamente. Era quase uma nova língua que ele criava com seus neologismos.

Odorico não ficava atrás. Criava palavras ímpares, como “muito prafrentismo” para adjetivar objetos e pessoas muito avançadas, seus opositores, viraram “calunistas” (os que proferem calúnias) cheios de “caluniamentos”, ou de “desarvorismos”, pessoas que praticavam a “conjuminância” de falar mal dele. Uma oposição “maquievelenta”!

Assim como Fialho, que chegou a ser republicano e monarquista na mesma existência, sempre com forte crítica política, Odorico criou uma postura política: a “democradura”, que reunia o melhor da ditadura e da democracia, num mesmo conceito. Vale lembrar que o autor e seu personagem existiram no auge da ditadura brasileira, e Odorico era uma forma de criticar a sociedade (e seus políticos) de forma velada e ao mesmo tempo divertida.

A criação de verbos novos por Fialho era profícua. Cláudio Bato, em seu estudo A Linguagem de Fialho (1917) identifica mais de 100 verbos criados pelo escritor, alguns curiosíssimos como: alisboetar, arcebispar, encinzeirar, lixiviar, entre outros.

Não é à toa que, na época que Fialho ainda era vivo, fez muito mais sucesso nas terras de lá do Atlântico, do que nas de cá. Sua brincadeira com a língua portuguesa caía bem nas páginas e ouvidos dos brasileiros, fato que era contestado em seu país natal. Seus artigos ácidos sobre a República, depois de proibidos em Portugal, passaram a ser publicados apenas no Brasil, no célebre jornal O Correio da Manhã, um periódico brasileiro, que, em sua primeira fase, foi publicado no Rio de Janeiro, entre 15 de junho de 1901 a 8 de julho de 1974. 

Depois, pouco antes de morrer, ao fazer críticas, desta vez a República Brasileira, foi proibido de escrever para este também. Enfim, os críticos nunca bem aceitos. Fialho e Odorico, criticavam algumas parcelas da sociedade que consideravam “desapetrechadas de inteligência”, como diria o prefeito, uma forma sutil de chamar a sociedade de ignorante.

Em tom de comédia crítica e ácida, como as de Fialho, a peça teatral que depois viraria telenovela, O Bem-amado conta a história do prefeito Odorico Paraguaçu, que tem como meta prioritária em sua administração na cidade de Sucupira a inauguração de um cemitério. De um lado é apoiado pelas irmãs Cajazeiras. Do outro, tem que lutar contra a forte oposição liderada por Vladmir, dono do jornaleco oposicionista da cidade. 

Por falta de defunto, o prefeito nunca consegue realizar sua meta. Nem mesmo a chegada de Ernesto - um moribundo que não morre - e a contratação de Zeca Diabo, um cangaceiro matador, lhe proporcionam a realização do sonho. Odorico arma situações para que alguém morra, mas o primeiro corpo a ser sepultado em Sucupira será o do próprio prefeito, que de caçador se torna caça e passa de vilão à mártir. E quantas histórias parecidas iremos ver na vida real.

Odorico foi criado em 1969, primeiro em forma de peça de teatro, chamada “O Bem Amado ou Os Mistérios do Amor e da Morte”, encenada em Recife, capital do Estado de Pernambuco, no Brasil, pelo icônico ator Procópio Ferreira. Como referência, este era pai de Bibi Ferreira, que fez uma das melhores interpretações de Amália Rodrigues no teatro até hoje, fora de Portugal.

O sucesso foi tanto, que, dos palcos, Odorico foi para a televisão, quatro anos depois, em uma telenovela de 178 capítulos, chamada somente de “O Bem Amado”. Na telenovela seria interpretado pelo ator que o imortalizou: Paulo Gracindo.

Mais uma vez sucesso, voltou às telas da televisão como uma série, desta vez entre 1980 e 1984, quase 20 anos após ter sido criada, com 220 episódios, fazendo o mesmo sucesso como desde o início. Odorico Paraguaçu voltava a ser interpretado por Paulo Gracindo.

Em 2010, “O Bem Amado” vai para as telas do cinema, desta vez sendo interpretado por outro ícone da televisão brasileira, Marco Nanini. E, mais recentemente, em 2017 o texto foi adquirido pelo México, onde se transformou, mais uma vez, em uma telenovela de 96 episódios, sendo Odorico interpretado pelo ator mexicano Jesús Ochoa.

Enfim, um texto que atravessou décadas, ditaduras, governos, críticas, e, do qual, pelas palavras de Odorico Paraguaçu, fica a pergunta: teria Dias Gomes se inspirado em Fialho de Almeida para criar seu personagem? Instala-se a dúvida...

Stevan Lekitsch

Escritor, jornalista, dramaturgo e cineasta



segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Câmara de Faro vai instalar Museu da Imprensa

A Câmara de Faro aprovou, na última reunião de câmara, aceitar a cedência gratuita do direito de superfície, da área de 781,80 m2, do prédio urbano composto por edifício de três pavimentos, destinados a serviços, situado no Largo da Sé (n.ºs 15 e 16, n.ºs 12, 14 e 16, e Rua Monsenhor Boto, n.ºs 1, 3 e 5), a celebrar entre a Diocese do Algarve e o Município de Faro.

A cessão vai ser feita por um período de 25 anos e, como contrapartida, a autarquia ficará responsável por reabilitar o imóvel, com vista à instalação do Museu da Imprensa e à preservação de todo o acervo patrimonial a integrar na coleção.

A autarquia explica em comunicado que é sua intenção “associar este espaço expositivo centrado nas leituras da memória da imprensa na região à rede museológica municipal, ficando a responsabilidade da gestão e do seu funcionamento à guarda da autarquia e do Museu Municipal de Faro”.  

A autarquia recorda que “o estudo para a criação do museu foi adjudicado à Universidade do Algarve, já tendo sido feita a recolha e inventariação do espólio documental e industrial e posterior programa expositivo preliminar com definição de conteúdos e sugestão de peças, uma proposta de espaços e funcionalidades, orçamentos e recursos”.

O Município de Faro e a Diocese do Algarve assinaram, no passado dia 7 de setembro, no âmbito das comemorações do Dia da Cidade, o protocolo que prevê a instalação desta estrutura expositiva no antigo espaço da Tipografia União.

Com caráter permanente, que assegurará a salvaguarda, valorização e divulgação do património gráfico resultante da oficina Tipografia União, dando a conhecer, simultaneamente, o facto de ter sido Faro a cidade-berço da imprensa em Portugal, com a impressão do livro Pentateuco, em língua hebraica, a 30 de junho de 1487.

A autarquia avançou ainda com o diagnóstico do estado do edifício e proposta de intervenção, inventário do espólio e a organização da documentação da Folha de Domingo.

A Câmara de Faro estará também envolvida na realização dos trabalhos associados e integrados no projeto “Print Culture Lab: heritage and development, an integrated perspective”, assim como na produção de edições, infraestruturas digitais, materiais audiovisuais, programas multimédia, exposições temáticas e promoção de iniciativas.

Este projeto interdisciplinar e interinstitucional de investigação científica, desenvolvimento tecnológico e ação cultural está em harmonia com a Estratégia Regional de Investigação e Inovação para a Especialização Inteligente do Algarve (2014-2020), com a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável da ONU, bem como o que foi definido na Convenção Quadro do Conselho da Europa relativa ao valor do património cultural para a sociedade (2005) e na Convenção para o Património Mundial, Cultural e Natural da UNESCO (1972).

Simultaneamente, este projeto permitirá também que Faro venha a dispor de mais um espaço cultural de grande relevância, propiciador do aumento da atratividade do território.

Fonte: https://postal.pt/cultura/camara-de-faro-aceita-cedencia-de-edificio-onde-vai-instalar-museu-da-imprensa/

domingo, 1 de outubro de 2023

Volnei Malaquias: do Concreto ao Abstrato, Literalmente!

Exposição de Volnei Malaquias: O Despertar do Caos
Exposição de Volnei Malaquias: O Despertar do Caos
“O essencial é invisível para os olhos”, já dizia Saint-Exupéry, o reverenciado autor do Pequeno Príncipe. E Volnei leva essa premissa ao pé da letra. O que os nossos olhos, de meros mortais e não-artistas, não enxergam, Volnei capta com olhos e a mente da arte, da cor, do subjetivo e da intensidade.

Seus quadros, de pura abstração, remetem a galáxias, águas profundas, rios de lava, paisagens rochosas, ou, simplesmente, a uma explosão de texturas e pigmentos. Mas, na verdade guardam uma origem muito mais surpreendente: são paredes descascadas, frestas de construção, passadeiras (faixas de pedestres), e outros tipos de intervenções urbanas das mais banais, espalhadas pelos cantos e becos de Lisboa. E que ele lê e traduz em quadros.

E seu olhar é tão transversal, que consegue captar e projetar estados mentais de si próprio, desta vez, comuns a nós mortais. E é isso que “O Despertar do Caos” nos apresenta: uma sequência, quase cronológica, de momentos psicológicos que vão do caos à depressão, do fundo do poço ao renascimento, e, finalmente, ao bem-estar de um cérebro que soube se fechar, se refazer e se reinventar. E assim também o faz com sua arte.

Suas crises, existenciais ou nem tanto, refletem-se numa profusão de texturas, de relevos, ora minuciosos, ora grotescos, assim como num regurgitar de cores, ora frias, ora cinzentas, ora obscuras, ora quentes e vibrantes, como que se espelhassem as fazes do nosso dia a dia, da nossa urbe, do nosso ser, da nossa vida.

Saber olhar para o concreto e ver a abstração, e ainda associada a um contexto psíquico, desconheço quem tenha feito isso antes. Os grandes abstratos usavam a tinta e o pincel. Ou o carvão e o papel. Volney usa o olho, a lente e o urbano. A cidade em si. Tão caótica quanto sua arte e sua mente. Tão incompreendida quanto a psique humana. E tão real quanto os nossos fantasmas e tormentos, comuns a todos nós, os humanos. Viva a arte!

Stevan Lekitsch

Escritor, jornalista e cineasta (e autor deste blog)

SERVIÇO:
"O DESPERTAR DO CAOS"
Exposição de Volnei Malaquias - artista brasileiro residente em Portugal
De 21 de Setembro a 15 de Outubro de 2023
Horário: de terça a sábado - das 10h00 às 19h30.
Galeria Barros&Bernard
Endereço/Morada: Rua de Borges Carneiro, 53 - Lisboa - Portugal
Telefone: (+351) 211 941 138




sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

22: exposição com textos insinuantes de Mário de Andrade

22: exposição com textos insinuantes de Mário de Andrade

Ainda surfando no sucesso de sua primeira exposição, “Queer Angola”, que atraiu milhares de visitantes para a página do Museu Lusófono da Diversidade Sexual, mostrando pessoas LGBTs angolanas, o museu lança sua segunda exposição virtual.

Com o sugestivo nome 22, uma alusão à Semana de Arte Moderna de 1922 que completou 100 anos, a exposição reúne 11 pinturas do artista plástico chileno Cheo González, assumidamente gay e radicado no Brasil, com 11 textos sugestivos do escritor brasileiro Mário de Andrade, um dos realizadores da semana de arte e ícone do Movimento Modernista Brasileiro.

E por que Mário de Andrade? A saber, o escritor recentemente foi “tirado do armário” ao ser divulgada uma carta que fala da sua sexualidade endereçada ao também escritor Manuel Bandeira.

Cheo González

Com pinturas dramáticas, intensas e expressivas, a exposição traz fundamentalmente rostos distorcidos, angustiados, amargurados, desesperados, com cores fortes e traços incisivos. Vivendo faz cinco anos no Brasil, Cheo já atuou como publicitário, designer, pintor e ilustrador, expondo e publicando obras no Chile, Brasil, França, Rússia, Japão, Alemanha e outros países.

Comandou equipes em projetos de design ganhando mais de 30 prêmios Colunistas e 40 prêmios Lusos, incluindo Grand Prix, Agência do Ano do Brasil, Agência do Ano no Mundo Lusófono, Melhor Revista e Agência do Ano no Colunistas, e ganhou vários prêmios internacionais por design e ilustração editorial.


Mário de Andrade

Foi um poeta, contista, cronista, romancista, musicólogo, historiador de arte, crítico e fotógrafo brasileiro, que viveu entre 1893 e 1945. Um dos fundadores do modernismo no país, criou a poesia brasileira moderna com a publicação de sua “Pauliceia Desvairada” em 1922, e é autor de clássicos como “Amar, Verbo Intransitivo” de 1927 e “Macunaíma” de 1928.

Em 2015 a Fundação Casa de Rui Barbosa disponibilizou para consulta um trecho inédito de uma carta escrita pelo próprio Mário de Andrade em 7 de abril de 1928 ao amigo Manuel Bandeira, na qual fala a respeito de sua fama de homossexual, carta esta que tem um trecho citado nesta exposição.

Exposição

Realizada pela Associação Diversa Arte e Cultura – DAC, com curadoria e expografia de Franco Reinaudo, está dentro da plataforma Google Arts & Culture, na página do Museu Lusófono da Diversidade Sexual.

O museu reúne expressões artísticas de artistas LGBTs dos 10 países e regiões que falam a Língua Portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Portrait 009 - Cheo González

22 = 11 PINTURAS DE CHEO GONZÁLEZ & 11 TEXTOS MÁRIO DE ANDRADE (EXPOSIÇÃO VIRTUAL)

Link: https://artsandculture.google.com/story/cAXR-urzWS8IqA

Imagens: Cheo González.

Textos: Mário de Andrade.

Curadoria e Expografia: Franco Reinaudo.

Realização: Associação Diversa Arte e Cultura – DAC e Museu Lusófono da Diversidade Sexual.


Plataforma: Google Arts & Culture.

TREMEMBÉ: A Hollywood dos Criminosos Brasileiros

Assisti numa sentada só a nova série "Tremembé" do Prime Vídeo. E adorei! Primeiro porque conheço Tremembé (SP) , a cidade, não o...